Paulo Irineu Barreto Fernandes, Ensaio Sobre The Dark Side of the Moon e a Filosofia: uma interpretação filosófica da obra-prima do Pink Floyd, Maringá, Viseu, 2021, 245 pp.
Há algo que incomoda na Filosofia acadêmica. Trata-se desta espécie de rigor que mais parece rigor mortis. Há um excesso de respeito que tolhe a criação. Por outro lado, principalmente nas redes sociais, observamos todo tipo de clichês ditos de orelhada a respeito de tal e tal filósofo. Parece-me que há um caminho criativo entre estes dois pólos: aquele que usa a filosofia como um modo de apropriação do mundo e da cultura. Alguns chamam de Filosofia Pop. Encaro como um jeito mais criativo de se fazer filosofia, sem se prender a um ou outro filósofo; mas, primordialmente, ao objeto de estudo.
É nesta seara que se inscreve o Ensaio Sobre Dark Side of the Moon e a Filosofia: uma interpretação filosófica da obra-prima do Pink Floyd. Os conceitos estão lá e são conhecidos e explicitados, mas cada um deles só é acionado quando a obra requer. É assim que o autor constrói sua análise de um dos álbuns mais importantes dos últimos cinquenta anos. Fernandes narra a história do Pink Floyd desde os primórdios. Traz a liderança e a loucura de Syd Barrett, mas se atém mesmo ao escrutínio das letras do disco mais importante da banda inglesa. São acionados, para elucidar e alargar a compreensão da obra, desde os pré-socráticos à escola de Frankfurt, passando por Santo Agostinho e o geofilósofo Milton Santos.
O que mantém a linha de coerência narrativa é o próprio objeto: o disco. Ao longo de mais de duzentas páginas, Fernandes tece um grande diálogo, uma roda de conversa sobre os temas profundamente humanos e filosóficos que transpassam as canções: a morte, a vida, a respiração, a passagem do tempo, a ganância, o dinheiro, o capitalismo. Como fã da banda e estudioso apaixonado por Filosofia, indico sem restrições.
Daniel Lopes Guaccaluz
(Notiziario n. 112, marzo 2023, pp. 8-9)